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Afinal o que comem as iguanas?

Pode dizer-se com alguma segurança, que as iguanas (Iguana iguana) são o lagarto mais comum como animal de estimação no nosso país, no entanto, os erros alimentares na sua dieta são tão ou mais frequentes que o próprio animal. Vou procurar de forma simples, alertar para as principais deficiências que normalmente se encontram na alimentação destes animais, explicar com algum fundamento científico porque as iguanas não devem comer proteína animal, e porque uma dieta de alface e tomate não é o suficiente para o seu bem estar.

Durante anos pensou-se que as iguanas eram omnívoras, alimentando-se de animais e plantas. Embora se tenham observado iguanas a comer insectos e cadáveres, tal fenómeno ocorreu em locais onde as iguanas se encontravam fora do seu habitat natural, constituindo por isso um comportamento atípico, nunca observado no seu ambiente natural.

Deste modo o consumo de proteína animal por parte destes animais é acidental e em nada reflecte a sua anatomo-fisiologia, pois o seu aparelho digestivo está vocacionado para a ingestão de plantas ricas em fibra e a extracção de grande quantidade de água dos alimentos.

No decorrer da década de oitenta, as iguanas criadas para consumo humano eram alimentadas com proteína animal de forma a proporcionar um rápido crescimento até á idade de 5-6 anos, idade em que seriam consumidas. A utilização de proteína animal vem ainda referida em alguma literatura da especialidade como sendo adequada a estes animais, e infelizmente, ainda é utilizada por algumas pessoas menos atentas à evolução da nutrição destes animais, como uma boa fonte proteica, que proporciona um crescimento rápido e que os animais ingerem com visível satisfação. Esquecem-se, no entanto, que uma iguana pode viver 15-20 anos, e com esta alimentação, devido a uma destruição prematura do rim, não vão além dos 5 anos.

Para os mais cépticos, vou tentar explicar de forma simples e sucinta, com base na bioquímica alimentar e fisiologia animal, o porquê desta diferença. As proteínas são formas a partir de 22 elementos base denominados amino-ácidos. A degradação e o produto final dos amino-ácidos é diferente conforme se trate de uma proteína animal ou vegetal, devido ao diferente arranjo estrutural destes amino-ácidos. No caso da proteína animal, esta é degradada em purinas (e não em pirimidinas, como a vegetal) que aceleram a destruição do rim de um animal herbívoro, como as iguanas. Um outro aspecto consiste no facto de as iguanas estarem preparadas para degradar proteína vegetal, que apresenta uma estrutura de mais difícil degradação, pelo que no caso de se alimentarem de animais leva a que consigam mais facilmente digerir estas proteínas e por sua vez à formação de maior quantidade de purinas, tóxicas para o rim.

  • Uma outra ideia é a de que os vegetais são alimentos de "dieta" e uma iguana nunca conseguirá crescer com essa alimentação. Sim, é verdade que uma iguana não conseguirá crescer apenas com uma "saladinha de alface e tomate". É necessário uma fonte de proteína vegetal, que é encontrada na alfafa (de preferência na planta adulta), que normalmente é vendida como granulado para coelhos, o que contém cerca de 15% de proteína e um ratio 6:1 Cálcio-Fósforo. Este granulado pode misturar-se com outras verduras, tendo o cuidado de variar o mais possível e não dar apenas 2-3 vegetais. E porquê? Porque alguns vegetais, se usados como alimentação base podem conduzir a patologias devido á sua constituição. Os brócolos, couve-flor, couve, devido ao seu teor em oxalatos podem interferir com o metabolismo do iodo e do cálcio, e os espinafres e a beterraba podem provocar gota. Mas atenção, não entrem em pânico, estes não são alimentos proibidos, apenas não devem ser a base da dieta...
  • Outro aspecto a considerar é a utilização de alimentos congelados. Embora de fácil preparação, tal como os anteriores não devem ser fornecidos como base alimentar pois durante o processo de congelação e descongelação perdem a Vitamina B1 que é necessária ao metabolismo do animal. No que diz respeito á fruta, esta deve constituir não mais de 10% da dieta devido ao desequilíbrio Cálcio-Fósforo que a maioria apresenta.
  • Outro erro frequente é o de considerar que as iguanas conseguem saber quais os alimentos que devem ou não comer. Isto é verdade, o seu instinto funciona mas só no seu habitat natural com as plantas e frutos que conhece e que por força da selecção natural é obrigada a conhecer. Tal não é verdade quando está em cativeiro, onde tem de comer aquilo que lhe é oferecido. Por este motivo, nós é que temos de fazer o "menu" correcto para o nosso animal de estimação.
  • Em relação à alimentação em granulado para iguanas, como em tudo, existem as de boa qualidade e as de má qualidade, apenas há que observar qual a composição do granulado. Se esta não estiver na embalagem, não pense duas vezes, faça você a alimentação para o seu animal.

Rui Patrício, Veterinário de Animais Exóticos